quinta-feira, 24 de junho de 2010

Crônica.... Veríssimo....

Eita que eu demorei outra pá de tempo pra atualizar esse blog, não é? Pois então, no meio da correria de final de semestre nas escolas e a UnB bombante, arrumei esse tempinho pra dar uma pequena atualizada no blog. Hoje, escolhi uma crônica do grande Veríssimo, meu autor de crônicas contemporâneas predileto. Hoje, toda crônica precisa, para ser bem aceita pelo público, conter humor. E é isso que faz do Veríssimo o cara que ele é.
Como toda crônica pra ser crônica, fala sempre sobre o cotidiano, parte de um pequeno acontecimento corriqueiro (isso é o cotidiano) e, dali, sai o que sai. No mundo corrido nosso de cada dia, com cada vez menos tempo pra "perder" com a Leitura (que eu nunca, jamais, em tempo algum considero perda de tempo), os textos curtos vêm ganhando espaço cada dia maior. Hoje, poucos se perdem nas muitas páginas do livro, enfiando-se, até o pescoço, na leitura.
Tá bom, tá bom, sempre existem os leitores dos vampirescos, dos "semi-deuses" modernos e do bruxo de Hogwarts (nesse último me incluo completamente), mas como diz o povo "AFORA ISSO", não há tantos leitores empolgados quanto antes. Mas, c'est la vie...


CASAL É TUDO IGUAL (Luis Fernando Veríssimo) 


Ele: – Alô?
Ela: – Pronto.
Ele: – Voz estranha… Gripada?
Ela: – Faringite.
Ele: – Deve ser o sereno. No mínimo tá saindo todas as noites pra badalar.
Ela: – E se estivesse? Algum problema?
Ele: – Não, imagina! Agora, você é uma mulher livre.
Ela: – E você? Sua voz também está diferente. Faringite?
Ele: – Constipado.
Ela: – Constipado? Você nunca usou esta palavra na vida.
Ele: – A gente aprende.
Ela: – Tá vendo? A separação serviu para alguma coisa.
Ele: – Viver sozinho é bom. A gente cresce.
Ela: – Você sempre viveu sozinho. Até quando casado só fez o que quis.
Ele: – Maldade sua, pois deixei de lado várias coisas quando a gente se casou.
Ela: – Evidente! Só faltava você continuar rebolando nas discotecas com as amigas.
Ele: – Já você não abriu mão de nada. Não deixou de ver novela, passear no shopping, comprar jóias, conversar ao telefone com as amigas durante horas…
… Silêncio ….
Ela: – Comprar jóias? De onde você tirou essa idéia? A única coisa que comprei em quinze anos de casamento foi um par de brincos.
Ele: – Quinze anos? Pensei que fosse bem menos.
Ela: – A memória dos homens é um caso de polícia!
Ele: – Mas conversar com as amigas no telefone…
Ela: – Solidão, meu caro, cansaço… Trabalhar fora, cuidar das crianças e ainda preparar o jantar para o HERÓI que chega à noite…Convenhamos, não chega a ser uma roda-gigante de emoções…
Ele: – Você nunca reclamou disso.
Ela: – E você me perguntou alguma vez?
Ele: – Lá vem você de novo… As poucas coisas que eu achava que estavam certas… Isso também era errado!?
Ela – Evidente, a gente não conversava nunca…
Ele: – Faltou diálogo, é isso? Na hora, ninguém fala nada. Aparece um impasse e as mulheres não reclamam. Depois, dizem que faltou diálogo. As mulheres são de Marte.
Ela: – E vocês são de Saturno!
…Silêncio…
Ele: – E aí, como vai a vida?
Ela: – Nunca estive tão bem. Livre para pensar, ninguém pra me dizer o que devo fazer…
Ele: – E isso é bom?
Ela: – Pense o que quiser, mas quinze anos de jornada são de enlouquecer qualquer uma.
Ele: – Eu nunca fui autor itário!
Ela: – Também nunca foi compreensivo!
Ele: – Jamais dei a entender que era perfeito. Tenho minhas limitações como qualquer mortal..
Ela: – Limitado e omisso como qualquer mortal.
Ele: – Você nunca foi irônica.
Ela: – Isso a gente aprende também.
Ele: – Eu sempre te apoiei.
Ela: – Lógico. Se não me engano foi no segundo mês de casamento que você lavou a única louça da tua vida. Um apoio inestimável…Sinceramente, eu não sei o que faria sem você. Ou você acha que fazer vinte caipirinhas numa tarde para um bando de marmanjos que assistem ao jogo da Copa do Mundo era realmente o meu grande objetivo na vida?
Ele: – Do que você está falando?
Ela: – Ah, não lembra?
Ele: – Ana, eu detesto futebol.
Ela: – Ana!? Esqueceu meu nome também? Alexandre, você ficou louco?
Ele: – Alexandre? Meu nome é Ronaldo!
…Silêncio…
Ele: – De onde está falando?
Ela: – 578 9922
Ele: – Não é o 579 9222?
Ela: – Não.
Ele: – Ah, desculpe, foi engano.
Depois de um tempo ambos caem na gargalhada.
Ele: – Quer dizer que você faz uma ótima caipirinha, hein?
Ela: – Modéstia à parte… Mas não gosto, prefiro vinho tinto.
Ele: – Mesmo? Vinho é a minha bebida preferida!
Ela: – E detesta futebol?
Ele: – Deus me livre… 22 caras correndo atrás de uma bola… Acho ridículo!
Ela: – Bem, você me dá licença, mas eu vou preparar o jantar.
Ele: – Que pena… O meu já está pronto. Risoto, minha especialidade!
Ela: – Mentira! É o meu prato predileto…
Ele: – Mesmo! Bem, a porção dá pra dois, e estou abrindo um Chianti também.Você não gostaria de…
Ela: – Adoraria!
….Ele dá o endereço.
Ela: – Nossa, tão pertinho! São dois quarteirões daqui.
Ele: – Então? É pegar ou largar.
Ela: – Tô passando aí, Ronaldo.
Ele: – Combinado, vizinha.

sábado, 19 de junho de 2010

Aniversário dele... Chico Buarque de Holanda

Hoje é o aniversário do grande Chico Buarque. Sou até suspeito para falar dele, pois é, sem dúvida, o mau compositor predileto, além de, na minha opinião, um autor de mão cheia. Importantíssimo ao contar, por meio de suas músicas, a nossa história mais negra, a da Ditadura, ainda consegue, como poucos, captar o sentimento feminino ao escrever inúmeras músicas cujo eu lírico é feminino.
Ele, com certeza, recebe muitas críticas por não ter uma voz excelente, perfeita e marcante, mas mesmo assim, consegue cantar como poucos. Em uma sociedade marcada por sertanejos, axezeiros e funkeiros, precisamos valorizar o trabalho de alguém que trata tão bem a palavra. Só pra constar, eu acho que todos têm o direito de gostar de Sertanejo, Axé e Funk, sem problema algum.
Com vocês, Chico, por Chico, por Bethânia, por quem quer que seja, Chico:






sexta-feira, 18 de junho de 2010

A Flor Mais Grande do Mundo - José Saramago

Abaixo, vídeo baseado na obra de José Saramago, com narração, se não me engano muito, do próprio Saramago. Sei dizer a vocês, poucos que me visitam aqui, que a Literatura está de Luto, luto com L maiúsculo de Literatura.

Saramago - A morte de um mestre

Hoje, o Post é um tanto quanto triste, pois a Literatura perdeu, no dia de hoje, um de seus nomes mais importantes: José Saramago. Sem querer fazer um trocadilho daqueles mais previsíveis, Saramago era um verdadeiro Mago da Literatura, pelo menos em Língua Portuguesa. Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, o mesmo que não conseguiu, nunca, nenhum brasileiro ganhar, é tido como um dos melhores escritores Portugueses de todos os tempos.
Tímido ao extremo, via na Literatura a forma de libertar-se e colocar, ao mundo, aquilo que acreditava e via. E não era pouca coisa: dono de uma cabeça extremamente iluminada, utilizava-se da Lígnua Portuguesa de maneira magistral. Não pretendo, de maneira nenhuma, analisá-lo, pois mais importante que isso, é ver a importância e a grandeza de sua obra. Entre as mais conhecidas, merece destaque o livro "Ensaio sobre a cegueira", que teve uma adaptação cinematográfica das melhores. Abaixo, segue o final do Livro, transcrito após ser lido exaustivamente por mim, desde os idos de 1996...

"(...) Vai ficar cego, Não, logo que a vida estiver normalizada, que tudo comece a funcionar, opero-o, será uma questão de semanas, Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhcer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem.
A mulher do médico levantou-se e foi à janela. Olhou para baixo, para a rua coberta de lixo, para as pessoas que gritavam e cantavam. Depois levantou a cabeça para o céu e viu-o todo branco, Chegou a minha vez, pensou. O medo súbito fê-la baixar os olhos. A cidade ainda ali estava."


quinta-feira, 17 de junho de 2010

Depois de um longo e tenebroso inverno...

Caramba...
Como quando a gente tem tempo livre, mais coisas aparecem para ocupar esse tempo, não é? Assim está acontecendo comigo. Tenho que me reacostumar a atualizar esse blog com maior frequência. Na correria, eu esqueço e corro mais. Prometo tentar atualizá-lo sempre.
Hoje, acordei com um espírito Quintânico (adoro neologismos). Autor que, temporalmente, começa a escrever na Segunda Geração do Modernismo, pra mim, ultrapassa as classificações e os reducionismos. Eu costumo dizer que ele é muito semelhante ao Drummond, com uma diferença básica: Quintana mostra a ferida e deixa que ela doa devagarinho, com seus temas cotidianos, enquanto o Drummi (intimidade é flórida), mete o dedo na ferida e ainda joga uma água oxigenada.
Então, nesse espírito simples, sem ser simplista, seguem alguns poeminhas do Quintana:

POEMINHO DO CONTRA (Clássico, com uma das melhores frases de nossa Literatura)

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!


BILHETE

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

.....tem de ser bem devagarinho,
.....amada,

.....que a vida é breve,
.....e o amor
.....mais breve ainda.


SIMULTANEIDADE

- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.


AH! OS RELÓGIOS

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...


Então, por hoje é isso... Espero que gostem e prometo que, no mais tardar amanhã à noite, teremos novos posts.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Alberto Caeiro, na voz de Bethânia

Depois de mais um tempo, longo sem postar nada, voltei à ativa...
Na volta, algumas coisas. A primeira, mais um post de Fernando Pessoa, agora com Caeiro. Na voz de Bethânia, a enorme Maria Bethânia. No meio, de lambuja, ainda falando um tiquinho. Dando umas ideias sobre a religiosidade. Fernando Pessoa é complicado? Sim, mas somente para aqueles que não querem se perder no que ele diz. Sim, mas só para aqueles que não querem se entregar, de corpo e alma, no que diz o poeta.

sábado, 5 de junho de 2010

Mais uma do Bandeira...

Aproveitando que Brasília, com esse climinha, proporciona uma excelente época para as Festas Juninas, posto mais um texto de Manuel Bandeira. Autor dos meus prediletos, como a maioria sabe, merece espaço amplo, total. É impressionante a maneira como, neste poema, ele consegue falar da morte, de maneira tão bela, tão singela, eu diria...

Profundamente


Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

(Manuel Bandeira)

terça-feira, 1 de junho de 2010

Tenho que quebrar essa seriedade toda....

Galera, pra fechar a noite de postagens, um videozinho que eu gosto demais da conta.... Ariano Suassuna é uma das maiores figuras da cultura brasileira. Esse "funk" como diz Ariano é demais pra mim...

A Literatura, a Música e a Guerra...

Falar sobre Segunda Geração é falar sobre a Literatura que traduz a vida em meio a uma guerra horrível, desumana. Matar porque não comungam da mesma opinião. Matar porque têm uma etnia diferente. Matar porque isso dá prazer. Precisamos pensar, ver no outro o nosso igual, por mais diferente que este seja. Nossa semelhança, como seres humanos, esté exatamente na diferença. Por sermos diferentes é que somos iguais. Por sermos diferentes é que somos interessantes. Pra vocês, hoje, Drummond em minha fase predileta e, claro, Vinícius, o eterno Poetinha (poeta maior) eternizado na voz de tantos, agora na voz dos pequeninos.

Sentimento do Mundo
(Carlos Drummond de Andrade)

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram que havia uma guerra
e era necessário trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso, anterior a fronteiras,
humildemente vos peço que me perdoeis.
Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho
desafiando a recordação do sineiro,
da viúva e do microscopista que habitavam a barraca
e não foram encontrados ao amanhecer
esse amanhecer mais que a noite.

Vinícius na voz das crianças